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O Que é Folclore

Cultura popular. Uma abordagem de folclore com vistas à construção de uma cultura da brincadeira, parte de uma cultura de paz.

Minha abordagem refere-se à brincadeira tradicional brasileira, alvo de uma pesquisa que venho desenvolvendo ao longo 40 anos da minha vida. Na verdade eu não sabia para que ou porque coletava, colecionava, escrevia e partiturizava cantigas de roda, brincadeiras cantadas etc. Hoje eu sei perfeitamente onde quero chegar e esse encantamento toma forma, jeito e torna-se um saber necessário. O meu desejo é devolver ao povo brasileiro seu folclore infantil, mas, sobretudo, o conhecimento e o reconhecimento de que desde que o homem é homem, ele brinca; que brincar é importante e que essa cultura da brincadeira é uma construção cultural da humanidade, onde cada um de nós está inserido hoje e sempre como participante e autor.

Vamos entender primeiro o que é folclore para compreendermos porque é necessário preservar as brincadeiras tradicionais.

Folclore é um repertório cultural criado por um sujeito coletivo, as classes populares, e que se constitui na sua tradição, no seu entendimento de mundo na descrição da sua realidade. Esse saber do povo ou folclore vem armazenado nas lendas, contos, músicas, histórias, apólogos e provérbios, no artesanato e na poesia popular, nos divertimentos e comemorações. São, portanto, as manifestações variadas da alma popular, através de ideias e dos sentimentos coletivos, inconscientemente feitos e refeitos através dos tempos, também denominado de fato folclórico.

O termo folclore é inglês, composto de folk (povo) e lore (saber, ciência). O saber do povo. O termo foi criado por William Jonh Thoms (1803-1885) em substituição à expressão “antiguidades populares”. Seria um erro marcamos com a criação do termo o surgimento do estudo das tradições populares.

Na Inglaterra já se publicava, em 1646, um livro de Thomas Brown, Pesquisa das superstições vulgares. Na França foi publicado, em 1697, o livro As histórias ou contos dos tempos passados, de Perrault. Na Alemanha, em seguida, os Irmãos Grimm publicam lendas e contos populares. Os estudos sobre tradições populares, precursores do folclore, entretanto, remontam à Grécia antiga, 160 a 180 anos D.C.

Segundo Câmara Cascudo, Folclore é a cultura do popular, tornada normativa pela tradição. Hoje, conclui-se que essa tradição não pode ser pensada como algo estático, permanentemente fixo. Ela deve ser vista como algo mutável, dinâmico. Isso acontece porque o folclore não existe no vácuo social. Ele existe dentro de um contexto sócial e histórico.

Assim as práticas que associamos ao folclore são permanentemente recriadas, reelaboradas, readaptadas às novas formas assumidas na sociedade. Em dezembro de 1995, em Salvador-Bahia, realizou-se o VIII Congresso do Folclore Brasileiro, onde foi atualizado o conceito de folclore:


Folclore é o conjunto de criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo da sua identidade social.

O que identifica o folclore é o anonimato (exceto o artesanato e a poesia popular), aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade e funcionalidade.

Minha motivação pelo assunto está ligada ao folclore infantil e à cultura da brincadeira brasileira. Venho de uma experiência de contato com o folclore, vivida desde muito cedo na Hora da Criança, projeto de arte e educação baiano, onde aprendi a cantar e a dançar cantigas de roda, brincadeiras cantadas, brincar livremente nas tardes ensolaradas e frescas de Salvador, na Praça da Piedade.

Éramos crianças felizes e iguais. Cresci ouvindo histórias da cultura popular, a carochinha portuguesa, os contos africanos, as lendas indígenas, tomando contato com o entendimento e a percepção da vida desses povos, pelas lentes da fantasia.

Minha escolha profissional como assistente social ligada ao movimento popular aprofundou o meu entendimento de folclore como revelação de identidade. A presença de traços da cultura indígena, portuguesa e africana nas nossas manifestações culturais “funciona como um jogo de espelhos que nos coloca diante da nossa diversidade e nos ajuda a negociarmos nossa identidade, para assumirmos uma brasilidade multicultural, tão branca quanto índia e negra, e constituir uma convivência de respeito e paz”, diz o professor Pedro Jaime.

Observando o brincar moderno impregnado de valores como consumo, erotismo, competição, violência e, sobretudo, solidão, nos questionamos.

Se brincando a criança exercita a vida, como será a consequência na vida social de uma brincadeira sem o toque, sem a tensão dos contrários, sem o espaço de saberes diferentes, e até conflitantes, sem espaços livres?

Vejo claramente, porque há 40 anos trabalho com crianças, depois de mais de 30.000 professores capacitados a usarem as brincadeiras tradicionais como estratégias didáticas e conteúdo transversal na escola, que o folclore infantil brasileiro precisa ser reconhecido como saber fundamental para a sociedade, pois possibilita a retomada de paradigmas importantes, capazes de recriarem valores fundamentais para uma construção de uma sociedade de iguais condições e de diferentes culturas. Ao contrário do que muitos pensam, as tradições do passado têm muito a nos ensinar sobre a vida do presente, visando o futuro.

Você Sabia?

Histórias africanas são, em geral, explicativas das relações com a vida e o entendimento dos seus fenômenos. 

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