Numa casinha simples, à beira de um riacho, nasceu uma linda menina. Quando foi batizada, seus padrinhos lhe deram um par de brincos de ouro, por isso todos a chamavam de Brinquinho de Ouro.

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A mãe da menina era viúva e muito trabalhadeira. Todos os dias iam juntas ao riacho lavar roupas. Para passar o tempo, a menina brincava na água fresca e cristalina e pescava piabinhas, que a mãe preparava no jantar.

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Um dia, na hora de voltar pra casa, Brinquinho de Ouro pediu à mamãe:

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- Deixa eu ficar mais um pouquinho, por favor!

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- Está bem! Só mais um pouquinho! E cuidado para não perder os brinquinhos! – recomendou.

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A menina tirou os brincos, colocou-os com cuidado numa pedra e continuou a brincar. Escorregava nas pedras lisas e caía na água gostosa, esquecendo-se completamente do tempo!

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Ao ver que começava a escurecer, a mãe chegou à porta da casa e gritou:

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- Brinquinho de Ouro!

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- Já vou! – respondeu. Vestiu-se depressa e saiu correndo para casa.

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Ao vê-la, a mãe perguntou:

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- Onde estão os seus brinquinhos?

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- Oh! Na pressa, esqueci-os no rio. Já, Já, vou busca-los!

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E voltou correndo pela trilha que descia ao riacho. Aliviada, viu os brincos sobre a pedra. Quando abaixou para pegá-los, foi fortemente agarrada por uma mão cabeluda enorme. Brinquinho de Ouro viu um homem que mais parecia um gigante, com uma tremenda cara de mau! Antes que pudesse gritar, o homem tapou-lhe a boca com um lenço imundo e jogou-a dentro de um saco de couro, chamado surrão. Pôs o saco nas costas e saiu correndo com aquelas pernas enormes, para que ninguém pudesse alcança-lo.

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Vendo que a filha não voltava, a mãe saiu à sua procura. Chegando ao riacho, não viu sinal algum da menina! Apavorada, pôs-se a grita:

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- Brinquinho de Ouro! Brinquinho de Ouro!

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Só o eco, bem ao longe nas montanhas escuras, repetia: “Ouro... Ouro...” A pobre criança, dentro do saco, chorava, chorava, enquanto ouvia o grito da mãe perder-se na distância...

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Foi uma noite tenebrosa! De tanto chamar pela filha, a mãe perdeu a voz. As horas passavam e ela não conseguia dormir um minuto sequer. Só pensava onde estaria sua pequena filhinha e rezava para que nada de mau lhe acontecesse.

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O gigante correu horas seguidas e caminhou sem parar até a manhã do dia seguinte. Enquanto isso, espremida dentro do saco abafado e escuro, Brinquinho de Ouro sentia medo, fome e sede. Ao meio-dia, o gigante viu uma casinha à beira do caminho e parou para comer algo. Bateu à porta e uma senhora muito pobre o atendeu.

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- Qué vê meu surrão cantá? – Perguntou-lhe o gitante.

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- Quero sim, sinhô. Nunca na vida vi um surrão cantar! – Disse a humilde mulher.

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O gigante, então, tirou o facão da cintura e bateu forte no saco:

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Canta, canta, meu surrão.
Senão te meto o meu facão!

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 Apavorada, a menina percebeu que se não cantasse alguma coisa o gigante a mataria.

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Então, improvisou uma triste canção:

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Neste surrão entrei
Neste surrão morrerei
Por causa do brinquinho de ouro
Que lá na pedra deixei...

 

- Que música linda! – Disse a mulher, encantada – Espere um pouquinho, vou lhe dar alguma coisa para comer.

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O gigante agradeceu e voltou a caminhar até encontrar um veio d’água, onde matou a sede e lavou o rosto. Sentou-se então debaixo de uma árvore e abriu o saco de comida que a mulher lhe dera. Dentro havia biscoitos, queijo e uma garrafa de leite. Era muito pouco para ele, que num minuto engoliu tudo.

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Depois pegou um pouco de água, recolheu as migalhas de pão que caíram no chão, abriu o surrão e deu as migalhas para Brinquinho de Ouro comer.

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- Cê canta muito bem! Continua assim boazinha que nunca vai te fartar nada!

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Depois de um breve descanso, o gigante continuou o caminho. No fim da tarde, viu uma fazendinha a distância. Como estava faminto outra vez, resolveu ir até lá.

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Ao ver aquele homem enorme e imundo parado à sua porta, a dona da casa tentou fechá-la, mas o gigante empurrou a porta e foi entrando. Colocou o surrão debaixo de uma mesinha num canto da sala e falou sem nenhum polimento:

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- Preciso cumê, bebê e discansá.

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A mulher saiu da sala morrendo de medo. Voltou depressa, trazendo um litro d’água, que ele bebeu de um só gole: gute, gute, gute... Em seguida, ela trouxe uma bacia cheia de comida: arroz, feijão, farinha, torresmo e mandioca. Nessa hora, o marido veio chegando e assustou-se com aquele gigante imundo, comendo feito louco. Em poucos minutos, a bacia estava completamente vazia e a barriga dele superestufada!

 

- Êta cumezinho bão, sô!

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Satisfeito, perguntou ao casal:

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- Sêis qué ouvi meu surrão cantá?

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- Sim, sim! – respondeu o casal, apavorado.

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O homenzarrão, então, pegou o surrão debaixo da mesa, tirou o facão da cintura e bateu com ele no saco:

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Canta, canta, meu surrão,
Senão te meto o meu facão! 

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Completamente sem forças, a menina pôs-se a cantar:

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Neste surrão entrei
Neste surrão morrerei
Por causa do brinquinho de ouro
Que lá na pedra deixei...

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O homem e a mulher entreolharam-se assustados, reconhecendo aquela voz. Eram os padrinhos de Brinquinho de Ouro, e já sabiam do desaparecimento da menina!

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- Parece a voz de Brinquinho de Ouro! – Cochichou a mulher.

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- Psiu! Ele pode escutar! – murmurou o marido.

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- Minha mulher está dizendo que a música é muito boa! – disse o padrinho de Brinquinho de Ouro, tentando disfarçar. – Vamos ouvir mais uma vez!

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Dessa vez o casal não teve mais dúvidas: era mesmo a afilhada que estava dentro do saco daquele homem terrível! Mas o padrinho, muito esperto, foi à cozinha e voltou com cinco garrafas de pinga para comemorar aquela beleza de surrão que sabia cantar tão bem! E o gigante, muito contente, começou a beber garrafa após garrafa, na boca do gargalo: gute, gute, gute, gute... até ficar completamente bêbado.

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- Por que o senhor não descansa um pouquinho? – Convidou o dono da casa, dando-lhe uma enorme almofada.

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O gigante não pensou duas vezes. Deitou-se no banco e dormiu. Roncava tanto que a casa estremecia! Rom... Rom... Rom...

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Vendo que o gigante dormia profundamente, levaram o saco para o quarto e soltaram Brinquinho de Ouro. A menina chorou de alegria ao ver que estava na casa dos padrinhos!

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- Descanse um pouco, querida, que eu vou buscar alguma coisa para você comer – disse a boa madrinha.

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O padrinho, enquanto isso, saiu depressa levando o saco vazio debaixo do braço. Foi até o curral, pegou um carneirinho, colocou-o dentro do saco, amarrando bem. Pôs tudo de volta, debaixo da mesa. Em seguida, preparou um café forte e sem doce. Tudo pronto, encheu um balde grande de água fria e jogou tudinho no dorminhoco! O gigante acordou furioso, molhado dos pés à cabeça!

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– O quê qui tá acontecendo aqui? – esbravejou.

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– Ufa! Que bom que o senhor acordou! – disse o dono da casa, fingindo estar aliviado – Pensei que tivesse desmaiado e fiquei muito preocupado, por isso molhei seu rosto um pouquinho.

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Em meio a tantas desculpas, o gigante foi-se acalmando e acabou dando boas risadas! A dona da casa chegou com o café cheiroso e quente, encheu um litro e deu-lhe para beber. O gigante tomou um gole e estalou a língua, dizendo:

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- Qui cafezinho bão, sô!

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Nem açúcar havia no café! Isso ajudou a despertá-lo. Imediatamente lembrou-se do surrão debaixo da mesa. Deu uma olhada e viu que continuava exatamente no mesmo lugar.

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- Agora tenho de ir embora. Vou ganhar muito dinheiro com esse surrão – disse o gigante, animado.

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O casal deu-lhe queijos e rapaduras. Satisfeito, jogou o surrão nas costas e saiu caminhando alegremente. Andou o resto da noite.

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Quando o dia amanheceu, parou numa vendinha onde alguns homens tomavam café. Comeu a matula todinha e deixou os farelos para o seu surrão cantador. “Si num cumê ela morre” – disse para si mesmo. E, então, falou bem alto:

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- Seis qué ouvi meu surrão cantá?

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- Claro! Claro! – responderam os homens, curiosos.

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O gigante pegou o facão e, todo orgulhoso de seu surrão, bateu nele, dizendo:

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Canta, canta, meu surrão,
Senão te meto o meu facão! 

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Assustado com as pancadas, o carneirinho pôs-se a berrar: béééé... béééé...

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- Isso é que é um surrão cantador! – brincaram os homens rindo do gigante.

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Sem entender o que estava acontecendo, o gigante bateu mais forte ainda:

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Canta, canta, meu surrão,
Senão te meto o meu facão! 

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E o carneirinho berrava: béééé... béééé... Envergonhado com aquele vexame todo, o gigante abriu o saco e o carneirinho saiu pulando e berrando sem parar: béééé... béééé... Atrás dele, corria o gigante, furioso, com o facão na mão:

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- Eu mato esse desgraçado! Eu mato esse desgraçado! – E sumiu na curva da estrada...

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De repente, seus pés escorregaram e ele caiu num profundo desfiladeiro.

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- Uauuuuu! – O gigante sumiu no buracão!

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Enquanto isso, os padrinhos de Brinquinho de Ouro levaram na de volta para casa. Encontraram a mãe completamente abatida pela falta que sentia da filha. Mas, ao ver a menina, ela deu um salto de alegria! As duas abraçaram-se e beijaram-se, corando de felicidade!

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Fim.