Atirei o Pau no Gato
Atirei o pau no gato, tô, tô
Mas o gato, tô, tô, não morreu, reu, reu
Dona chica, cá, cá Admirou-se , se, se
Do berrô, do berrô que o gato deu.
Você Sabia?
Cancioneiro português. É a cançoneta mais cantada de todos os tempos. Há versões coincidentes em Portugal e no Brasil.
Os mais de 30 anos de pesquisa sobre cultura da brincadeira, me autorizam a discordar da mudança da letra, sob o argumento de instigar a violência infantil. Sabemos que são outros os fatores da violência. Tanto que os gatos não estão extintos, enquanto a fauna silvestre vive em permanente perigo. Que o peixe-boi, a ararinha azul, o mico-leão-dourado, a onça pintada...
Trata-se da cançoneta mais antiga no repertório musical herdado dos portugueses. Mais antiga que o próprio Brasil. Podemos dizer, sem medo, que é a mais cantada em todo o mundo português. Provocada pelo argumento de alguns professores de que essa cançoneta causa violência, depois de cantar 40 anos com crianças, tentei entender o porquê das crianças amarem tanto essa canção... Dizem pra mim: “Porque a gente pula e se joga pra trás, porque a gente grita miau...”.
Caros Professores: Quero pensar com vocês. Os gatos estão extintos? As crianças matam os gatos? As cançonetas têm a intenção de provocar reações. Por isso têm uma coreografia tão movimentada. Na cultura popular, e no entendimento de Jung, tudo que se realiza na fantasia não se realiza na prática. Sendo folclorista, não posso admitir a troca da letra de uma canção com mais de 500 anos e patrimônio cultural Lusófono. Proponho que antes de moralizar a brincadeira, entendamos o olhar da criança, entendamos os motivos da preferência por essa canção. Mas nada impede que ela seja motivadora de uma conversa ética sobre a violência, sobre a relação dos homens com os animais. Encontre sua maneira; afinal, cultura é vida.